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Ao encontro de si mesmo

Publicado em 23/02/2016 as 18h:44min | Fonte: A Tribuna.

A temática do momento do Brasil, nos jornais, revistas, televisão, rodas de conversas é sobre crise econômica, corrupção governamental, desemprego, alta da inflação, aumento galopante do dólar, fechamento de empresas, violência descabida, dentre outras. Estas notícias afetam a vida da população, gerando um verdadeiro desequilíbrio econômico, social, familiar, profissional e pessoal. Essas notícias funcionam como projéteis psíquicos, influenciando a vida de todos.
O perigo deste momento atual é a banalização destas notícias. Acharmos que o Brasil é isso mesmo e perder a esperança, o civismo e jogar a responsabilidade atual pelo momento que vivemos somente para fora de nós mesmos, de forma a nos sentirmos vítimas da situação e nos eximindo de quaisquer responsabilidades.
Embora esta questão possa gerar inquietude, insatisfação e não concordância. Podemos achar que somos vítimas do sistema, da família, da sociedade, da economia, e que sempre o que está fora, nos persegue e determina quem somos. Esta afirmação está correta, em parte. Porém, está dentro da pessoa as escolhas feitas no passado e também o encontro de um novo caminho, neste momento e nos demais que virão. A questão chave é: “fiz as escolhas certas até agora? ” O que fiz comigo para me encontrar onde estou?
Numa palestra conferida em Porto Alegre em agosto do ano passado, o genial James Hollis, autor de inúmeros livros, analista junguiano e palestrante, abordou temas como sombra psicológica, complexos, projeção, medos, depressão, e muitos outros.
Hollis falou com sabedoria que: “aquilo que você se tornou, se tornou seu grande problema”. Claro que este processo foi longo e demorado. O ser humano para suprir uma necessidade de ser aceito, reconhecido e valorizado nos grupos que participa, como a família, sociedade, escola e trabalho, na tentativa constante de evitar aquilo que ele não gosta, como por exemplo, o abandono, a violência, o desprezo, solidão, medos, vergonha, rejeição, foi se adaptando e respondendo com comportamentos aceitos, reconhecidos e valorizados pelos outros.
Neste processo de adaptação, foi criando um “falso eu”, jogando para debaixo da mesa, escondendo dos outros e enterrando bem fundo dentro de si mesmo, desejos, sonhos verdadeiros, autenticidade, medos, vulnerabilidade, competências, sentimentos. Porém, isso tudo continua de forma ativa dentro dele, em forma de energia altamente concentrada, revelada e jogada nas agendas ocultas como, comportamentos tóxicos, sabotagens, vícios, projeções, sonhos, escolhas.
Tudo isso funciona como mecanismos de defesa, para não ver-se dentro de si de forma clara e honesta. Por isso Hollis, fala que aquilo que nos tornamos, tornou-se nosso grande problema, pois nos afastamos do nosso verdadeiro potencial, da nossa verdadeira essência. Não sabemos mais quem somos e olhamos para fora (nos outros, na economia, na corrupção, na crise, no aumento do dólar) evitando olhar para dentro de nós e encontrar nosso verdadeiro “eu”. Precisamos destas defesas para dar conta das inúmeras questões a serem trabalhadas dentro de nós. Porém, viver apenas nos defendendo não trará as mudanças necessárias para um mundo melhor e com mais esperança.
Uma saída disso, é a constante busca dentro de si mesmo, as respostas verdadeiras a respeito de nós mesmos. Esclarecer a nossa história de vida. Redescobrir a nossa verdadeira essência e possibilidades. Revelar crenças, valores e garimpar honestamente as sombras psicológicas escondidas, já há muitos anos, que foram recalcadas, dragando energia vital de forma camuflada, sabotando e boicotando nosso verdadeiro crescimento espiritual, intelectual, amoroso e financeiro. Nossa história de vida é poderosa, nela existem forças determinantes e limitantes, mas também contém sabedoria e informações importantes, que podem nos ajudar a redescobrir quem somos nela e além dela.
O que o mundo fez de nós, não necessariamente será o que ele continuará fazendo conosco. Para mudar os efeitos da história, deveremos ter uma conversa franca e verdadeira sobre o que o mundo fez de nós, mas também o que permitimos que o mundo fizesse de nós, quem somos, e qual o nosso verdadeiro “eu”. O que queremos e desejamos do mundo de forma a encontrar energia a nós impulsionar além daquilo que falam que como mundo é, e está. Redescobrir novas forças sem esperar pelo mundo melhor, mas fazer o melhor a cada dia, de forma a sermos a fonte ativa, daquilo que desejamos receber do mundo.

(*) Roberto Scola é doutor em Psicologia Social e Mestre em Administração de Empresas – Email atendimento@marcondessantos.adm.br



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